É HORA DE MUDAR?

É HORA DE MUDAR? - por Antonio Sena*

Acompanhando os e-mails do grupo do Diretório Acadêmico posteriores ao anúncio do fim da greve dos professores, vi diversas declarações. Algumas indignadas com os professores, outras com os estudantes mais radicais. Algumas sugerindo ações imediatas para dar continuidade ao movimento; outras pensando em uma nova estratégia. Tudo o que está ocorrendo no movimento agora me remete ao que passamos mês passado quando nós, estudantes de BSI decidimos pelo retorno às aulas.

Passamos por tudo o que o movimento passa agora. Primeiro, quando começamos no movimento, a euforia das primeiras vitórias: o anúncio da entrada de BSI no movimento forçou o reajuste “simbólico” que tivemos (para alguns cursos, foi decréscimo). Com o nosso dossiê, veio o TAC. Sim, o TAC apareceu graças ao nosso dossiê, pois quando professores de nosso curso estiveram no Ministério Público para entregá-lo, os promotores apresentaram a estes o TAC, que se tornou público a partir desta data. Depois da euforia, veio o desgaste: todas as medidas legais para que o impeachment do Reitor ocorresse haviam sido tomadas por nós, e até os mais acalorados defensores da paralisação não tinham mais argumentos. O racha interno foi evidente: os insatisfeitos passaram a pressionar nas assembléias; os líderes de BSI estavam desgastados, visto que não tinham a menor experiência com este tipo de mobilização. Os prejuízos acadêmicos eram evidentes. Precisávamos mudar de estratégia, pois o momento assim exigia. Chegou-se a um momento decisivo: ou retornaríamos às aulas com apoio burocrático ao movimento (o que, querendo ou não, fortaleceria a reitoria) ou permaneceríamos paralisados à mercê da queda do Reitor. A decisão foi tomada.

Porém, querendo ou não, foi com persistência que conseguimos chegar onde chegamos: Sistemas soube exatamente quando começar e quando parar. Soube avaliar suas posturas e mudar de opinião quando foi necessário. Foi capaz de dialogar para mantermos a greve, mas também de erguer barricadas para ter aulas.

Para nós, as vitórias do aumento simbólico das mensalidades e da abertura do TAC foram mais do que suficiente. Embora não tivéssemos provas cabais de irregularidades administrativas (embora sejamos conhecedores da situação da FSA) e mesmo com o pouco interesse dos órgãos competentes no impeachment do Reitor, havíamos vitórias claras. O TAC revelava pontos importantes que sabíamos que a FSA não vinha cumprindo e a auditoria independente determinada no TAC traria as provas necessárias para o afastamento do Reitor. Então, porquê permanecer na estratégia burra do “me ferro para ferrar o Reitor”? Mudamos de estratégia para não nos prejudicar, para manter a unidade do curso para que num futuro próximo, pudéssemos dar continuidade na luta, cobrando os pontos do TAC.

O movimento obteve vitórias importantes no cenário da FSA. Claro, a permanência de Bermelho no cargo foi um duro golpe, porém, um canal de diálogo está aberto, o que não ocorreu antes. Provas podem surgir com a abertura das contas, o que poderia garantir a queda do Reitor não através do Conselho Diretor, mas do Ministério Público (o que cá entre nós seria mais bonito).

Agora, mais do que nunca, o movimento precisa estar unido. Precisam ter cabeça fria, assim como tiveram os professores, e assim como tiveram os estudantes de Sistemas. Invadir a reitoria novamente geraria um novo processo (visto que o primeiro era justamente de reintegração de posse), fecharia a porta do diálogo e abriria a porta da perseguição. Impedir as aulas com batucadas nas portas das salas? São 40 salas só na FAFIL, fora as alocadas no colégio e nos anexos (o que nos faz supor que seria necessária a Timbalada na FSA). Além disso, o batuque gera turmas sem aulas, mas turmas que passam a odiar o movimento. Não seria melhor turmas com aula e apoiando? E os professores, que sempre apoiaram a luta, não se sentiriam traídos e hostilizados?

Talvez seja o momento mais propício de o movimento repensar suas atitudes. Se quer manter a união dos estudantes da FSA em torno da qualidade de ensino, tem a oportunidade única de repensar sua estratégia e começar a desenvolver metodologias de luta que abriguem a todas as possibilidades, sejam elas burocráticas ou radicais. Claro, sempre haverão os opositores, afinal, não agradamos a gregos e troianos jamais. Porém, quando temos pessoas que compartilham de um mesmo ideal, mas divergem nos meios, é fundamental que saibamos conversar para que possamos, de maneira unida e coordenada, cada qual à sua maneira, atingir o alvo, que é comum aos dois.

Mudar de estratégia não é pecado. Não sou alienado como costumam classificar os estudantes de BSI, mas sei analisar quando uma situação e mudar minha opinião, mesmo quando o lado pelo qual optei seja contrário às minhas concepções pessoais, mas são positivas para o coletivo. Acho que é hora do movimento agir assim também. Tem de se desapegar de ideologias e pensar mais no coletivo.

Parabenizo ao movimento pela persistência que teve até agora, e pelas vitórias que obteve. Mesmo cometendo erros, alguns graves e dos quais fomos vítimas, até que os resultados são foram negativos. Os audaciosos que lutaram e lutam merecem no mínimo nosso respeito. Parabéns aos que acreditaram que seria possível chegar até aqui e parabéns aos que lutaram.

Torço para que o movimento saiba pensar e agir com equilíbrio, analisar a situação e consiga escolher a melhor opção para a luta: uma opção que seja boa para a FSA, boa para os estudantes e boa para o próprio movimento

Saudações acadêmicas.

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*Antonio Sena é estudante e representante do 4º C e membro discente do colegiado de Curso de BSI, além de membro da Equipe do Blog "Sistemas FSA"